LIÇÕES DE JESUS NA CRUZ SOBRE A FAMÍLIA

23 de maio de 2010


No Comentário sobre o Evangelho de João, João Calvino (1509-1564) afirma que Cristo obedeceu a Deus, mas não falhou no cumprimento do dever que tinha em relação à sua mãe. Cristo se esqueceu de si mesmo e de tudo quanto era necessário para obedecer ao Pai, mas não negligenciou o que devia, como filho, à sua mãe.

Devemos servir, em primeiro lugar, a Deus: se nossos pais, esposa ou filhos nos puxarem em direção contrária, não poderemos dar igual satisfação a todos. Não devemos colocar os homens na mesma posição de Deus, mas sim dar a preferência ao comando, ao culto e ao serviço de Deus. Depois disso, tanto quanto formos capazes, deveremos dar aos homens o que lhes for devido.

De acordo com os Dez Mandamentos, Israel deveria começar pelo culto, isto é, pelo serviço exclusivo a Deus, mas também cumprir os deveres civis. A prioridade é exigida também por Cristo, que diz: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim", e: "Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo". Quando tivemos obedecido a Deus, será o tempo próprio para pensarmos nos pais, na esposa e nos filhos, como Cristo, que atribuiu a João o cuidado de sua mãe após estar sobre a cruz, cumprindo primeiro o decreto de seu Pai.

Jesus ensina, na cruz, portanto, que devemos atentar para a honra devida aos pais, que consiste não em cerimônias formais, alegres, mas em carregar com eles e por eles todas as cargas necessárias. Mas, infelizmente, quando Jesus diz a João: "Eis, aí está a tua mãe", deduzimos que nenhum de seus irmãos estava ali para fazer isso, mas Ele, como filho exemplar, não desamparou sua querida mãe nem na hora do martírio. Que exemplo para seguirmos hoje, numa época de tanto desprezo e desrespeito aos pais!

E por fim, Calvino afirma também a importância da família e da propriedade em nossa missão, pois é evidente que os apóstolos tiveram suas famílias e que João não poderia exercitar hospitalidade em relação à mãe de Cristo, se não tivesse uma casa e uma forma regular de vida. Assim, o reformador é contra o radicalismo daqueles que pensavam que os apóstolos foram a Cristo nus e vazios. Antes, eles o serviram de ambas as formas, alguns renunciando tudo, mas outros o servindo com seus bens, que são bênçãos de Deus para seu próprio serviço. Calvino alertava, assim, contra o erro daqueles que pensavam que a perfeição consistia numa vida de miséria, idéia que até hoje engana a muitos, pois tudo vem de Deus, e deve ser usado para a sua glória.

Tradução e adaptação: Rev. Isaar Soares de Carvalho